Em 2017 a AMA, empresa social da Ambev destinada a levar água para o semiárido brasileiro e ajudar no desenvolvimento da região, realizou seu primeiro investimento, com a captação e canalização de água para cada casa do município de Jaguaruana, Ceará. Com isso, o tempo antes gasto pelos moradores para buscar água poderia se converter em uma atividade rentável, como a produção e venda de artesanato, preservando a cultura local e criando novos empregos.

Com esta finalidade, a AMA contatou o museu A Casa, convidando-nos para a realização de um projeto conjunto de revitalização e inovação do trançado da palha de carnaúba. Agiríamos mais na zona rural, com estrada de chão batido e casas espalhadas, imersas no exuberante carnaubal. 

A palmeira carnaúba é a presença mais forte desta região do semiárido, e seu tronco, folhas e hastes são amplamente utilizados, além da extração da cera que se deposita sobre suas folhas. Até então, a atividade dos artesãos de Jaguaruana concentrava-se, sobretudo, na produção de artigos úteis como o abano, o chapéu e a vassourinha, além da confecção de esteiras.

Para esse projeto, A Casa convidou o curador e diretor artístico Renato Imbroisi que fez um diagnóstico da região e identificou os grupos a serem parceiros. Foram convidados: Sitio Volta, Sitio Caiçara, Santa Luzia – os três em Jaguaruana –, e as cidades vizinhas de Palhano e Itaiçaba, que já tinham maior autonomia em seu trabalho. Durante esse diagnóstico, Renato Imbroisi deu início ao processo de trabalho, propondo um exercício para cada grupo de artesãos. Decidiu-se, então, que os três primeiros locais precisariam de treinamento. 

O especialista em trançado, João de Fibra, foi chamado para atuar em Jaguaruana. Encontrou pouco interesse por parte dos possíveis artesãos. Foi um processo trabalhoso, mas, aos poucos, ele conseguiu reunir algumas mulheres, muitas das quais haviam parado de trançar havia anos.  João foi recorrendo à lembrança delas, que pouco a pouco adquiriram maior confiança. 

Para ampliar a variedade de cores, trançados, grafismos e mesmo de produtos, foram ministradas oficinas com uma equipe composta pelas designers Liana Bloisi, Cristina Pereira Barreto, Tina Moura e Lui Lo Pumo, pelo designer Renato Imbroisi e o mestre-artesão João de Fibra. O fotógrafo e vídeo-maker Kiko Ferriti e sua equipe, e o designer gráfico Seyey,  responsável pelo livro documentando o projeto, também integravam a comitiva. 

Com a chegada de todos esses forasteiros, foi organizada uma festa-encontro na igreja de Itaiçaba, com música, lanche, dança e poesia, onde cada grupo apresentou sua peça, fruto do exercício proposto por Renato na viagem anterior. 

O trabalho nas oficinas e o registro de imagens duraram vários dias e houve quatro retornos da equipe para acompanhar a produção e finalização dos produtos, todos comprados pelo projeto. 

A partir daí, a produção artesanal da região pôde se expandir para outras peças, com a criação de bolsas, cestos, esteiras, mesas, pufes, bancos, redes, luminárias.

Todas as etapas deste projeto estão registradas no livro A CASA ama carnaúba, disponível no museu.

Nosso relacionamento com os artesãos continua, principalmente com os de Sitio Volta e Sitio Caiçara, onde A Casa aluga uma casa para que eles possam se reunir, mas as chuvas e a ameaça do covid-19 paralisaram temporariamente as atividades.